Elogio ao Amor (Éloge de l'amour - 2001)

Éloge de l'amour

O filme parece um colcha de retalhos, costurada por inúmeras e constantes citações de autores como Max Ophuls, Shakespeare e Robert Bresson, uma das maiores influências de Godard. Um desses aforismos irrompe na tela, logo de início: "A medida do amor é amar sem medida".
O fluxo contínuo de idéias torna intrincada a tarefa de revelar o enredo do filme, que se divide em dois blocos plasticamente diferentes.

O presente, filmado em 35 mm e em preto-e-branco, precede o passado que se apresenta em cores estouradas, captadas por câmera digital. Edgard (Bruno Putzulu) é um cineasta em busca de uma atriz para protagonizar seu filme, uma mescla de literatura, ópera e cinema.Ele enxerga em uma faxineira argelina a pessoa ideal, mas a mulher se recusa a realizar o papel. Dois anos antes, o mesmo Edgar investiga a vida de um membro da resistência francesa que, por dinheiro, vende os direitos de sua história pessoal a Hollywood, para uma produção que terá Steven Spielberg como diretor.

A diferença de olhar entre velhos e jovens, uma das discussões levantadas em O Elogio ao Amor, vem à tona em uma cena na qual personagens idosos discutem Delacroix e Matisse, enquanto a empregada assiste a uma produção americana. "A imagem da TV é o olhar do nada sobre nós", diz um dos personagens. Godard também sente falta da contemplação, ato que os jovens, imersos num ritmo frenético, ignoram.

Isso tanto lhes é imposto pela velocidade da sociedade atual quanto pelo efeito zapping, acentuado pelo advento do controle remoto da televisão. Ao mesmo tempo, solta farpas à indústria cinematográfica norte-americana. "A viúva de Schindler não recebeu um tostão de Spielberg e vive na miséria na Argentina", dispara uma outra personagem tentando convencer os avós a não venderem para Hollywood a história da resistência francesa. Mas não é apenas Hollywood o único alvo da fúria de Godard. Os americanos, de modo geral, também estão em sua mira. Enquanto conversa com o produtor de Spielberg, a mesma personagem pergunta: "Estados Unidos de onde?" "Estados Unidos da América", responde o homem. "Ok, mas o Brasil também são Estados Unidos da América." O homem ainda insiste: "Estados Unidos da América do Norte". A francesa retruca: "o México também são Estados Unidos da América do Norte." Assim, ela termina o diálogo com a afirmação de que os Estados Unidos são um país sem nome e, conseqüentemente, sem história. Por isso precisam se apropriar do passado dos outros povos. (Fonte: Terra - DVD - Laura Gonçalves - Reuters)

Nenhum comentário: